terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Café e cigarros

Café e cigarros



Ela saiu de casa cedo
Na mesa apenas um papel qualquer jogado
Em letras rápidas e trêmulas, poucas palavras:
“Vou indo, adeus... nos  vemos um dia desses”
Foi buscar novos caminhos, e eu apenas era a velha estrada...
Já trafegada e conhecida.
Ela precisava de novos ares e eu de oxigênio
Abri o jornal matutino, nada de novo
Um cigarro pendendo das mãos... é o que restava
Sobraram para mim apenas as lembranças.
A mesma cadeira, o mesmo espaço antes ocupado pela silhueta dela
A torneira que teimava em pingar mesmo com tudo isso
Na pia um copo; desses baratos, com restos de café...
Que ela tomou antes de partir para sua viagem.
Seus últimos restos mortais.
Visto um par de chinelos amarelados, rastejo até o sofá,
A janela ainda estava cerrada, provavelmente iria ficar durante o resto do dia.
Ligo a TV, nada além de besteiras, tomo um trago de qualquer coisa...
Acendo mais um cigarro, volto para cama
Entre uma tragada e outra, murmuro:

“Que tudo mais vá a merda...”

por Cleiner Micceno

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